Wednesday, February 21, 2007

Insomnia, ou O Exercício Egocêntrico-Maçador dos Blogs

I used to be so very sensible.


Depois de uma viagem boa, muito boa
pazes feitas com Madrid. Barcelona na corda bamba?
Depois de duas viagens más, muito más de avião,
a chegada a casa, o apanhar do autocarro no aeroporto - como se ainda numa cidade que não a minha. Depois o apanhar do combóio, o regresso ao mar, o verdadeiro regresso a casa. A porta a abrir-se no lugar de sempre, pelo menos quando o sempre tem quase um ano. O combóio a seguir e eu a ficar, o fascínio eterno pelas ondas assustadas, o cheiro a Inverno mas o Verão a querer chegar. Na minha cabeça?

Subir até casa, casa do tipo edifício, porque casas afinal há tantas. Dormir o sono dos guerreiros, porque cidades estranhas sempre nos fazem batalhar, dormir mais do que o esperado. Acordar e o dia é noite, e agora tenho tudo trocado, mais vale assumir e beber café, começar a trabalhar e esperar que amanhã venha. Depois o sono do corpo, a entrega à cama e não ao sofá. Mas a cama pode ser traiçoeira, pode levar os braços para trás da cabeça, as duas mãos a fazer de almofada e a servir de motor ao pensar. E logo os olhos no tecto que não se vê, logo as visões que se tem no escuro - de um dia bom, de uma vida boa, de conquistas suadas, de corridas atrapalhadas. Afinal, aos 24, é mesmo bom ter 24. Nem 14 nem 34, muito menos 7. Crescer é muito bom, quando acompanhado de ciência, quando se tem boas bandejas como pai e mãe. Quando um pai nos diz tirava toda a tua dor para pô-la no meu coração, então isso é viver, isso é quase um sentido para se ser, é um agradecimento a um Deus contra o qual se vai mas do qual nunca se duvida. Não é isso que é ser filho?

Divagações à parte ou não, que bom que é gostar de Elton John nos seus tempos velhinhos, que bom que é saber que Pet Sounds foi o melhor album alguma vez feito mas que New Slang, por alguma viragem de magia, devia lá estar. Que bom que é deixar os dedos correr teclados ou sujar as mãos de tinta. E as calças e a t-shirt, as mesmas que já estiveram em África, em Budapeste, em Praga e em Florença. Em Londres e a esquiar. Em caminhos de caminhante atrás de santuários. Em Lisboa. E que bom que é Lisboa, não é cenário perfeito porque afinal é personagem, só ela já dava um filme, cheio de luz e gente boa.

Mais uma divagação ou outra, que bom que é saber viver no campo e na cidade, que bom que é poder comer frango assado em casas de uma divisão ou jantar num restaurante chamado The Square. E preferir o primeiro. Que bom que é ter avós assim, primos assim, tios assim. Que bom que é saber que família é muito mais que isso, por aqui é sinónimo de raiz, de base de partida e lugar de chegada. De irmãos e sobrinhos nem se pode falar, o orgulho anda por aqui em excesso e transborda palavras. E mais que orgulho, isso então só mesmo Amor.

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Que bom que é saber da paixão e da preguiça pela manhã, que medo que é saber de homens com compromissos, que susto é ver casamentos precoces, que estranho é escutar tanto de tanta gente com tanta proximidade física mas tanta diferença em valor. E que bom é encontrar semelhanças em lugares tão inimagináveis como inevitáveis.
Que bom saber da fé e da razão, da falta dela e dos chutos no ar. Que bom é sujar paredes de sangue e limpá-las com tinta. Reciclagens hereditárias. E por falar em heranças, é dos genes que tudo vem. Mas o caminho, ah esse faz-se com sangue próprio.

Hum, afinal para que serve viver o séc. XXI e não fazer uso dele, usar um blog para o que ele serve, caixote do lixo de criancinhas perdidas, os ex-diários que alguém deixava sem chave. Vá lá, todos os alguéns que venham, que espreitem a vida alheia e a comentem, ansiosos que andam por vidas paralelas. Faço aqui o gosto a tanto dente, pena é que sejam poucos os dentes que saibam de nós, esta irmandade bloguistica afinal constituida por dois, já que os outros deram à sola. Não? Se aí andam que se acusem.

Divagações de 4:00, já que me troquei agora troco-te a ti, deixo-te com sono durante o dia. Porque blogs são feitos para textos curtos e concisos. Mil perdões se te desgasto.

Lembrei-me de uma, uma que já pouco me lembrava, que em tempos foi sinónimo de verdades supremas, que hoje passou a ser uma Boa Música - as boas músicas existem por si, não por attachements emocionais. Porque afinal, quase tudo é tão melhor sem attachements. Não?

Bom dia mundo.

1 comment:

Berliner said...

é bom ler-te. e é bom re-ouvir esta música. sabe sempre bem.