Fui-te contando histórias e foste ouvindo. Escutavas, aliás, com a forca de um leao. Tu já tinhas visto leoes e eu nao. Até chegar a ti só tinha visto obras de arte, paredes de cidades, edificios bem altos e muito fumo azul.
Fui correndo contigo, atrás de porcos - havia mesmo porcos no meio de África. Fui saltando pontes, mas nao haviam pontes, havia muita terra, que se metia debaixo das unhas e se entranhava nas botas. Fui matando mosquitos pela noite dentro, fugi de ciclones entre duas estradas, vi o sol a por-se entre duas montanhas. Fui pegando na terra e espalhei-a nos bracos. Depois nas pernas e depois na cabeca. Era terra vermelha, como nunca um ocidental poderia ter visto antes.
Andei contigo em autocarros antigos, do tempo dos colonos e dos teus avós. Chamavas-lhes machimbombos, outras vezes chapas. Fui sempre de mochila nas costas e de caderno no bolso, fita-cola na mao para nao perder nada. Nada de nada.
Pus-te nas cavalitas e corri de novo, soube do teu nome e dos teu sete irmaos. Tive saudades de casa quando saía para longe, na parte de trás da carrinha a levar com o pó e o cheiro das queimadas.
Subi aos telhados das igrejas e palhotas, nunca tive medo de cair ao chao. Porque o terreno parecia tao firme, naquele estado tosco de irregularidade perfeita.
Bebi café na tua frente, fosse batido à mao ou fresco do matagal. Comi muito, comi demais porque tinha fome, muita fome e muita sede. De tudo e de tudo e de muito mais. Queria tudo dentro meu bolso.
Tu nao sabias, porque eras pequeno. Mas eu comecava a saber porque já era maior. Que a partir de ti tudo seria diferente, que me fazias mais mulher e mais pessoa, que nunca mais nada igual, que nunca mais totalmente ocidental.
Tu nao sabes, porque vives longe. Nem tu nem os teus irmaos nem os meus irmaos. Foste África e fizeste África. Como se fosses arquitecto e criasses renders, pontos e pontos e pontos dentro do meu corpo. E tudo, menino, a fazer crescer em mim raizes, de embondeiro ou café. Para nunca mais ser igual a antes.
Fui correndo contigo, atrás de porcos - havia mesmo porcos no meio de África. Fui saltando pontes, mas nao haviam pontes, havia muita terra, que se metia debaixo das unhas e se entranhava nas botas. Fui matando mosquitos pela noite dentro, fugi de ciclones entre duas estradas, vi o sol a por-se entre duas montanhas. Fui pegando na terra e espalhei-a nos bracos. Depois nas pernas e depois na cabeca. Era terra vermelha, como nunca um ocidental poderia ter visto antes.
Andei contigo em autocarros antigos, do tempo dos colonos e dos teus avós. Chamavas-lhes machimbombos, outras vezes chapas. Fui sempre de mochila nas costas e de caderno no bolso, fita-cola na mao para nao perder nada. Nada de nada.
Pus-te nas cavalitas e corri de novo, soube do teu nome e dos teu sete irmaos. Tive saudades de casa quando saía para longe, na parte de trás da carrinha a levar com o pó e o cheiro das queimadas.
Subi aos telhados das igrejas e palhotas, nunca tive medo de cair ao chao. Porque o terreno parecia tao firme, naquele estado tosco de irregularidade perfeita.
Bebi café na tua frente, fosse batido à mao ou fresco do matagal. Comi muito, comi demais porque tinha fome, muita fome e muita sede. De tudo e de tudo e de muito mais. Queria tudo dentro meu bolso.
Tu nao sabias, porque eras pequeno. Mas eu comecava a saber porque já era maior. Que a partir de ti tudo seria diferente, que me fazias mais mulher e mais pessoa, que nunca mais nada igual, que nunca mais totalmente ocidental.
Tu nao sabes, porque vives longe. Nem tu nem os teus irmaos nem os meus irmaos. Foste África e fizeste África. Como se fosses arquitecto e criasses renders, pontos e pontos e pontos dentro do meu corpo. E tudo, menino, a fazer crescer em mim raizes, de embondeiro ou café. Para nunca mais ser igual a antes.
4 comments:
peco perdao pela falta de acentos e confusao de frases. mas é teclado estrangeiro e cansaco de cidade grande.
Para nunca mais ser igual a antes.
E nem os teus, nem os meus, e nem os de ninguém percebem.
Aliás, alguns meus até percebem.
Afinal, alguns também nunca mais foram iguais.
Nunca mais nenhum de nós foi como antes.
Graças por isso ter sido a minha vida, Graças por vocês fazerem parte dela, graças pela xima e pelo sol, pelas palhotas, mosquitos, medos insónias. conversas, músicas e caixas abertas. Graças por infinitas coisas que não cabem em posts nem em palavras!
Sortudos nós!
Ai está ela de volta!! :)
Impressionante... qualquer comentário ao teu texto seria como(como alguém uma vez disse) "acender uma vela para iluminar o sol"...
;)
D
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