© Zé Bird
Lembras-te, tu?
Era princípio de Verão porque era antes dos exames. A água estava quente. Ou talvez fosse porque lá estávamos metidas há muitas horas. Deviam ser 9 da noite ou até mais tarde, mas a luz ainda existia, fraquinha, numa intensidade que só chega a coraçoes fortes ou espíritos despertos.
Eramos muitos dentro de água mas eu lembro-me de ti, lembro-me sempre mais de ti. Tenho um imagem bem cravada no meu cérebro: tu a passares ao lado, a cortar a onda mesmo ali, o mar estava tão mole que quase parecia que me sentava nele e nao na prancha. E quase parecia que podias sentar-te também tu, perguntar como correu o meu dia e depois seguir na onda.
Lembras-te, tu?
Do sangue que correu na água, que me correu cara abaixo e fato abaixo, da correria para coser a cabeça rasgada, da pena de deixar aquele fim de tarde e aquela água que mais parecia dom.
Eu lembro-me bem.
Porque me lembro sempre de ti, de tudo o que fomos, de tudo o que seremos. Ou quanto mais nao seja porque tenho um risco eterno que me atravessa a sobrancelha, um risco que amo porque é sinal de dias bons e amizade sem barreiras. É sinal de mar misturado com o meu sangue, que depois foi cosido e preso dentro do corpo. E essa marca é mais marca que qualquer cicatriz. Naquele dia prendi-te a ti e ao mar dentro de mim. Se possível, ainda mais que antes.
Quando voltar a aprender, posso ensinar os teus filhos a surfar?
2 comments:
lembro-me bem! tu a baixares-te na prancha para tocar na água ou a quereres apanhar a última onda no mar vermelho!
sacana... eu queria ter ficado mais tempo!!!
há mar e mar...
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