Nas ruas da capital da Bósnia, aquele lugar do qual crescemos a ouvir falar à hora do jantar, nas notícias, antes da mãe gritar 'para a mesaaa!', existem rosas no chão. Pelas ruas de Sarajevo espalham-se flores pelo chão. Vais a andar e pisas círculos imperfeitos de todos os tamanhos, estilhaçados para os lados. E não lhes ligas, talvez. Ou achas engraçado e tiras fotografias. Mas nem os bósnios, nem os croatas, nem sequer os sérvios, as acham bonitas. Não são Pollocks no MoMa, não são Picassos nas paredes de Barcelona, nem sequer são Diego Rivera nos muros do México. Aquilo não é arte. Aquilo nem sequer é vida. As Rosas de Sarajevo são símbolo de morte, memorial de uma cheiro que atravessou o país inteiro, anos e anos de guerra que cresceu connosco. Mas que nós nem entendemos. Porque nós só mudámos o canal. Como fizemos com o Rwanda. Como fazemos com o Iraque, como fazemos com o Congo. Com a faixa de Gaza. Porque eu não posso fazer nada.
As Rosas de Sarajevo são cicatrizes no chão. Concretamente, são locais onde se deram explosões, onde pessoas rebentaram ou morreram pela mão de snipers ou granadas. Os buracos foram enchidos de uma espécie de cera cor-de-rosa. E em Sarajevo não existe uma ou outra. Existem centenas por toda a cidade. A mesma cidade para onde se começa a viajar, que se começa a levantar. Mas só na avenida principal. Porque basta desviar um bocadinho o passo, passar uma rua mais para a esquerda ou para a direita, e a morte ainda deita cheiro, os pés ainda são descalços, o frio ainda mata a gente na rua.
Não sei o que me deu. Mas a dor anda pelo mundo fora, paralela ao amor que também existe sempre, claro. Deus e o diabo andam à luta eternamente.
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